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A menina que habita em mim

>> quinta-feira, 23 de maio de 2013


Ando me desapegando pouco a pouco das desnecessidades da vida. O tempo me diz que outras significâncias se fazem prementes. Nas mãos da menina que habita em mim, uma flor, e em seus olhos aquele encantamento ingênuo de quem visita o mundo todo em seu próprio jardim. Nem preciso saber o caminho de volta à minha infância; meus pés descalços conhecem bem as pedras, a poeira da estrada e aquele cheiro de mato que possui toda a singeleza surrupiada no desenrolar dos meus anos vividos. A alegria bagunçada e misturada da casa cheia de irmãos, algumas brigas, comida gostosa de mãe e a presença fundamental de todos que compunham o meu plural. Crescer embaça a fantasia que nos veste quando crianças e tira toda a transparência cristalina das nossas palavras. Somos designados a acreditar menos, quase que desconfiando, e poucas vezes nos permitimos admirar as minimidades maravilhosas que desabrocham do nosso sentir. Ser adulto adoece um pouco nossa capacidade de nos surpreender e superlativa nossas expectativas. Ando desafrouxando os nós apertados da minha garganta e busco unicamente o esplendor que aquece a lamparina da minha essência. Quero voltar ao lugar onde meu mundo cabia inteiro nas páginas do meu conto de fadas preferido. Quero pular as poças de lama que a chuva misturou à terra, gargalhar sem pressa, e ao olhar distraída no reflexo da água, enxergar a mesma menina faceira que interpretou todos os papéis da minha saga pessoal. A menina que desejava apenas um dia inteirinho para ser feliz, subir no pé de manga e vestir suas bonecas com roupinhas de filha. A menina que tinha tanta imaginação, que inventava longas histórias nas páginas coloridas da sua memória. A menina que falava para dentro, em sussurros, com todas as outras meninas que moravam em suas profundezas. Hoje sei que transporto em mim traços emprestados das urgências de ser gente grande. Não sei exatamente o quanto apreendi dessa estranha façanha que é amadurecer. Só sei que preciso sempre consultar minha doce enciclopédia de inocências contidas na minha infância para não me perder na tênue presunção que emoldura a suposta sabedoria. Quero o deleite do não saber contínuo. Sob a pele da minha loba, em constante estado de júbilo, vive minha eterna, lírica e sonhadora menina. 

Marisa Dionisio


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