O legado da Loba
>> quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Não tive a crise dos quarenta. Acho que não sou uma mulher de crises, sou uma mulher de fases. E de cada uma delas tirei a melhor lição e fui embora sem rancor e sem arrependimentos. Fui uma aproveitadora de fases. E também uma grande apreciadora da vida. E como a vida foi boa comigo. Me deu os filhos sonhados e a delícia de um amor tranqüilo. Daí a loba chegou e me trouxe além de tudo, sorte. Me trouxe leveza, tolerância e um pouco mais de exigência também. Aos quarenta, com os óculos da loba, a vida me parece sempre bela. Na pele da loba me sinto mais segura, conheço bem meus defeitos, meus limites e me situo melhor no mundo. A loba me trouxe um Leão, e desse encontro, dois filhotes. Fiquei mais forte, mais hábil, e por eles, enfrento tempestades, enfrento inclusive a mim mesma. E a isso chamo maturidade. Tenho menos fricote, consigo perceber a inteireza das coisas, consigo enxergar a abrangência dos acontecimentos. Sou melhor. E melhor que isso, me sinto melhor. Um corpo legal, a mente sã, e o espírito sempre em evolução. A busca é constante, mas é tão bom sentir que a estrada é essa e que a direção é a mesma que queríamos tomar, lá atrás, quando então pensávamos no futuro. Os anos me deram tesouras e ao longo da vida fui cortando os excessos. O mais se tornou menos. E toda ansiedade, urgência e curiosidade se transformaram em ruguinhas simpáticas, alguns quilinhos e a serenidade que só a idade nos concede. Fiquei mais bonita, fiquei mais eu. E de tanto procurar por outros, procurar por tudo, eu me encontrei. Sou feliz de uma forma mais gostosa. Adoro as excentricidades que os quarenta nos permitem. O que com vinte era ridículo, aos quarenta é chique. Podemos tudo. E sim, queremos tudo também. Pecamos com menos culpa, porém com mais consciência. Nossos sonhos estão aqui e agora. Nossos planos estão acontecendo. O futuro é hoje. A loba foi generosa comigo. Me ensinou a valorizar o que realmente é importante e a não me preocupar tanto. Não tenho medo de envelhecer. Quero ficar bem velhinha, com meu baú de preciosidades cheio de boas histórias, repleto de lembranças que me façam rir e suspirar. E lembrar não somente do que aconteceu, mas principalmente do que eu gostaria que tivesse sido. Por isso o tempo agora tem um sabor diferente. Eu sei o que esperar e às vezes, somente às vezes, sei também como agir. Com a loba, aprendi a viver. Hoje, lado a lado com ela, não temo tanto pelo futuro. A vida é mais suave. Todos os anos bem vividos me deixaram plena. O passado ficou para trás, com todos os seus ensinamentos e aprendizados. O futuro me olha sedutor. Me sinto no meio do caminho. Uma história que já foi feita e uma outra história ainda por escrever. Satisfeita, mas com o querer do porvir. O legado da loba para mim foi abundante. Com a vida na balança, vejo que o saldo foi positivo. Muito amor, muitas realizações, sabedoria e luz. Consegui ouvir a voz do meu coração e seguir minha intuição. Fiz escolhas, acertei algumas vezes e errei outras tantas também. E é bom chegar aqui assim. Poder olhar no espelho, ver o reflexo da loba que sou e me reconhecer nele. E assim me sentir realizada. É, a vida tem sido boa para mim.
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