Minha flor

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Meu amor

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Retalhos de um tempo

>> quinta-feira, 23 de maio de 2013

“Descanso minhas intensidades 
nas palmas das tuas mãos calejadas
pela aridez 
dos sóis que castigam a vida.
É essa a sina
de quem caminha com os pés no chão
e os olhares refletidos de cerrados infinitos.
Levo no corpo todas as curvas
de um rio inteiro percorrido
e sofrido pelas lágrimas vertidas
dos seus olhos inquiridores.
Pois quem é filho da terra
e se comunica livre com o vento
nunca se perde nos redemoinhos
que povoam as mentes não satisfeitas
pelo ritmo frenético dos dias vazios.
Você é sempre o inusitado
da beleza cotidiana
do sol que se põe
atrás daquela montanha
que tantas vezes desenhamos
com as pontas dos nossos dedos.
Você é a centelha das estrelas brincantes
das nossas noites acesas pelo amor.
Anoitecemos amiúde
com o luar incorporado
na tez dos nossos sussurros
enrouquecidos das tantas acrobacias
executadas em uníssono.
Madrugamos encantados
e embalados pela quimera
de que podíamos parar o tempo.
E amanhecemos fatigados e repletos
de ter e reter os nós
de nós dois.
Felizes nós fomos
naquela dimensão que vez por outra
nos abrigava quando fugíamos
do mundo, cúmplices
ao encontro da nossa solidão compartilhada.
Hoje eu aconteço
misturada ao seu vulto.
E você habita intocado
todas as profundezas
da minha cobiça.”

Marisa Dionisio

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A menina que habita em mim


Ando me desapegando pouco a pouco das desnecessidades da vida. O tempo me diz que outras significâncias se fazem prementes. Nas mãos da menina que habita em mim, uma flor, e em seus olhos aquele encantamento ingênuo de quem visita o mundo todo em seu próprio jardim. Nem preciso saber o caminho de volta à minha infância; meus pés descalços conhecem bem as pedras, a poeira da estrada e aquele cheiro de mato que possui toda a singeleza surrupiada no desenrolar dos meus anos vividos. A alegria bagunçada e misturada da casa cheia de irmãos, algumas brigas, comida gostosa de mãe e a presença fundamental de todos que compunham o meu plural. Crescer embaça a fantasia que nos veste quando crianças e tira toda a transparência cristalina das nossas palavras. Somos designados a acreditar menos, quase que desconfiando, e poucas vezes nos permitimos admirar as minimidades maravilhosas que desabrocham do nosso sentir. Ser adulto adoece um pouco nossa capacidade de nos surpreender e superlativa nossas expectativas. Ando desafrouxando os nós apertados da minha garganta e busco unicamente o esplendor que aquece a lamparina da minha essência. Quero voltar ao lugar onde meu mundo cabia inteiro nas páginas do meu conto de fadas preferido. Quero pular as poças de lama que a chuva misturou à terra, gargalhar sem pressa, e ao olhar distraída no reflexo da água, enxergar a mesma menina faceira que interpretou todos os papéis da minha saga pessoal. A menina que desejava apenas um dia inteirinho para ser feliz, subir no pé de manga e vestir suas bonecas com roupinhas de filha. A menina que tinha tanta imaginação, que inventava longas histórias nas páginas coloridas da sua memória. A menina que falava para dentro, em sussurros, com todas as outras meninas que moravam em suas profundezas. Hoje sei que transporto em mim traços emprestados das urgências de ser gente grande. Não sei exatamente o quanto apreendi dessa estranha façanha que é amadurecer. Só sei que preciso sempre consultar minha doce enciclopédia de inocências contidas na minha infância para não me perder na tênue presunção que emoldura a suposta sabedoria. Quero o deleite do não saber contínuo. Sob a pele da minha loba, em constante estado de júbilo, vive minha eterna, lírica e sonhadora menina. 

Marisa Dionisio


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Pé na cozinha

>> quinta-feira, 16 de maio de 2013




Tenho um pé na cozinha. Um não, os dois. A cozinha é sempre aconchego para o meu cansaço. O melhor lugar de uma casa. Com certeza o melhor lugar da minha casa.  Palco de inesquecíveis histórias familiares e relicário de aromáticas memórias afetivas. Cozinha e comida de mãe, afago certeiro no coração. Não é por acaso que sou assídua no ambiente culinário do meu lar. Com minha colher de pau, meu caderno de receitas e uma dose extra de extravagância e imaginação, exerço plenamente minhas prendas gastronômicas. Em minhas panelas tento replicar momentos eternizados no céu do meu paladar. De posse dos meus apetrechos de forno e fogão, brinco então de ser a minha mãe, e vou me lembrando das delícias de nossas conversas na cozinha, nosso santuário de encontros. Misturo lembranças, afetos, ervas e temperos. E assim, embalada pelas recordações desses dias que têm sabor de saudade, construo meu próprio caminho no terreno dos sabores. Vou ensaiando uma dança ritimada de gestos elaborados junto com os ingredientes e minha imaginação. Sigo as receitas, mas dou sempre uma pitada da minha personalidade. Minha performance é uma saborosa mistura de tudo que aprendi com a arriscada cartada do improviso. Porque cozinhar exige feeling, aptidão e muitíssima boa vontade. Sentimento é tudo na hora de preparar um alimento. Na cozinha minha poesia borbulha fumegante enquanto apimento as palavras com originalidade. Cozinhar é uma prece e uma arte também.  É demonstração de amor e é carinho e cafuné no apetite alheio. Receber quem a gente quer bem em uma mesa preparada com capricho é uma linda forma de demonstrar amor. Comida gostosa agrega família, amigos e tece fraternidade. A melhor maneira de reunir pessoas é com uma comidinha feita com as mãos e com o coração também. Ponto. Disso decorre reuniões acaloradas, com muitas risadas e mescladas com regalos que encantam o paladar e satisfazem o apetite. Comida antes de tudo tem que ter charme. Apresentação é a palavra chave. É claro que o sabor é imprescindível, mas dizem que nós comemos primeiro com os olhos, e é verdade. Eu cozinho todos os dias para minha família. E tento fazer disso uma oração diária, pois além de presentear meus amados com uma alimentação saudável e bem feita, estou também ensinando aos meus filhos que cozinhar é uma atividade prazerosa. Venho de uma gama de grandes cozinheiros caseiros. Minhas avós, tias, pai, mãe e irmãos me garantiram o gene certo para a cozinha. E para agregar talentos, ainda me casei com outro grande chef.  E eu que cresci em uma família grande onde toda refeição tinha cárater festivo, perpetuo essa atmosfera em meu próprio lar e faço da minha casa o reduto de encontro dos amigos, familiares e amigos dos meus filhos, assim como sempre foi na casa de meus pais. Sou festeira, festiva e adoro agraciar quem eu amo com belezas comestíveis. Faço poesia com palavras e alimentos.  E sei que estou proporcionando lindas lembranças aos meus pequenos, transmitindo a eles o que eu recebi como herança afetiva. Casa alegre é casa cheia, de gente, barulho, plantas, bichos, bagunça, livros e também de mesa sempre posta com delícias apetitosas. A atividade culinária se ensina principalmente com o exemplo, assim como a leitura, educação e respeito à vida. Receber bem exige carinho, acolhimento e atenção. Eu gosto, e muito. Sempre. E continuo com um pé na cozinha. Um não, os dois.

Marisa Dionisio

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>> quarta-feira, 15 de maio de 2013


"Me desembrulhei de tudo o que me prende a esse peso no coração. Minha tristeza tem prazo de validade. Sou daquelas que choram até borrar todo o rímel e embaçar a paisagem de chuvas lacrimejantes. Mas meu choro limpa tudo. E na minha alma eu encontro uma força escondida que abraça minha alegria e seca meus olhos encharcados de marés revoltas. E é por sentir tantas vezes o gosto amargo das tempestades que consigo tomar prazeirosamente a calmaria com um pouco de gelo, rum e limão. Meu vulcão interior adormeceu de novo e eu não temo nenhum confronto com as adversidades constantes. As rosas que eu havia plantado em meu coração enfim floresceram. E a dor que esmagava meu peito eu traduzi em poesia. Nas minha horas não há espaço para o sofrimento em vão. Porque apesar de tudo eu fui feita para o amor. E para ser feliz. Descaradamente feliz."

Marisa Dionisio


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O que restou

"Foi depois do último suspiro 
arquejante de amor
que me dependurei 
no fiapo de esperança
que você me deixou.
Cultivei esse fio
com meu sol
minha chuva
e meus sonhos.
E semeei nele
doses diárias
de nossas lembranças.
Enfeitei essa plantação de desejos
com meus sorrisos
meus afagos
e meus anseios.
Me joguei destemida
na única prova concreta
da existência
daquele amor interrompido.
O gosto cortante do seu beijo
que ainda habita a minha boca
e o toque certeiro
de quem conhece
e domina
a minha geografia.
Do seu paradeiro
muito pouco eu sei.
Do seu destino
há muito me desapeguei.
De você,
carrego em mim
cravado fundo no meu coração,
suas feições perfeitas,
e as marcas profundas
de uma história
infelizmente
desfeita."

Marisa Dionisio




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>> segunda-feira, 13 de maio de 2013


"Não sei exatamente onde começou esse encadeamento de amores que se espalharam através dos meus passos pelo mundo. Sei que vejo corações por onde eu ando, ou para onde eu olho. E exatamente como aprendi com o enredado de relações em minha existência, vou semeando e colhendo essas porções de bonitezas que recebi ao longo da vida. Como um cordão umbilical que une a mãe ao filho no ventre, perpetuo esse laço inquebrável de amor, seguindo com meus filhos um caminho que comecei com meus pais. Para o amor não cabem denominações. Ele requer atitudes. Não sei se como mãe ou filha, irmã ou madrinha, tia ou amiga, o que eu sei é que a vida me permitiu desdobrar em aptidões amorosas. E me mostrou que a capacidade de amar é inesgotável. Ser mãe independe de laços sanguíneos, barrigas pontiagudas ou partos emocionantes. Ser mãe é a habilidade de expandir as fronteiras físicas e espirituais do amor. É a vocação para doação generosa e incondicional de nós mesmos. A atitude materna é literalmente o ato de plantar amor. Mãe é aconchego, colo e cafuné. Comidinha gostosa, carinho com os olhos, orgulho permanente e o abraço que não tem fim. Mãe é o nosso domingo feliz com gostinho de algodão doce no banco da praça. É quem carrega em si a grandeza infinita de amar. E de perto ou de longe, com um toque, um sopro, certo ou errado, faz tudo ficar ainda melhor."

Marisa Dionisio


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>> segunda-feira, 6 de maio de 2013


Gosto do que me causa estranhamento. Do que pincela meu olhar de curiosidade. Daquilo que me lança além da minha zona de conforto e que me faz caminhar e dar uma espiadela no que há por detrás da cortina. Gosto do que sugere, e não do que explicita. Gosto da beleza que se esconde brincalhona em um rosto que se destaca improvável em uma multidão de semelhanças entediantes.  Me derreto diante de olhos que não apenas me desejam, mas que perscrutam minha alma, investigam meu desejo e submetem meu ímpeto a um comando sutil. Gosto dos caminhos incógnitos dos labirintos que surgem das possibilidades. Sou deliciosamente movida pelos imprevistos admirados que se descortinam diariamente diante de minhas escolhas. O mundo fica infinitamente melhor quando viramos do avesso todo e qualquer padrão conhecido e confortável.  O que eu gosto mesmo é de assumir os riscos de viver  de acordo comigo mesma. 

Marisa Dionisio

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